Uma menina que estava a caminho de casa, cansada, já não agüentava mais andar e resolveu pegar o ônibus que passava em sua rua. O ponto de ônibus estava vazio e resolveu sentar. Já era final de tarde. Impaciente, porque o ônibus não passava, resolveu perguntar a uma jovem, que aparentava ter uns 23 anos, se o ônibus que pegara passava ali. A jovem, que fazia sinal para seu ônibus, não prestou muita atenção e respondeu que sim. A menina agradeceu e sentou-se novamente.
Enquanto o ônibus não chegava, ela pensava na vida, em como as coisas estavam sendo difíceis para ela naquele momento e chegaram a cair algumas lágrimas, que logo cessaram quando um senhor, de 67 anos – ela descobriu a idade dele ao longo da conversa – sentou-se ao lado dela e perguntou por que chorava e ela disse que estava triste, pois nada dava certo. Ela não conseguia um emprego e estava prestes a se formar na faculdade de medicina, mas o dinheiro era pouco para pagar tal faculdade que é tão cara. Também tinha acabado de terminar um noivado de quatro anos, fora traída. Sentia saudade da irmã, que morava longe, não se entendia muito bem com o pai e sua mãe era a que mais lhe apoiava.
Precisava chegar logo em casa para descansar e acordar cedo para mais uma batalha, na busca de um emprego. O senhor, muito sábio, contou suas experiências, algumas tanto exageradas, mas que fizera arrancar um sorriso tímido da menina. O ônibus dele já tinha passado muitas e muitas vezes, mas a conversa estava tão boa, que ele muito animado, dizia sempre que ia pegar o próximo, mas não era o que acontecia e, ela muito atenta a tudo que aquele velho experiente, engraçado e atencioso lhe dizia, esquecera de perguntar se ali passava o ônibus que tinha que pegar.
Já era noite, o frio começou a bater, quando se lembrou de perguntar. O senhor já se levantava para ir embora, porque na verdade, a casa dele era em frente ao ponto de ônibus e falou para a menina que não passava, ela estava no lugar errado, mas a aconselhou a pegar outro ônibus – aquele que passou tantas e tantas vezes e o velhinho nunca pegava -, porque ele parava próximo ao lugar onde queria chegar. Ela agradeceu e pegou o próximo ônibus. Depois da longa conversa com o senhor, ela já não estava tão triste e se sentia mais leve. Ao longo do caminho, observou todas as pessoas que entravam e saíam do ônibus. Ela nunca tinha reparado em como as pessoas são tão diferentes, mas em certos momentos são parecidas com suas atitudes.
Foi pensando em tudo o que o senhor lhe contara, até que uma adolescente, de 16 anos, voltava da casa do pai e ia para sua casa. Os pais dela eram separados e ela ficava muito triste com tudo aquilo, porque tinha duas casas, um irmão do outro casamento do pai e ela tinha muito ciúme. A menina aproveitou para contar tudo o que aprendera com o velhinho, inclusive os exageros e compartilhou um pouco de sua vida também. As duas deram boas gargalhadas e momentos depois a menina saiu do ônibus. Assim que chegou em casa, cumprimentou a mãe, deu um beijo no pai – e ela não fazia isso há um bom tempo – ligou para a irmã e foi tomar banho, jantou com a família e foi dormir. Antes de dormir, ela agradeceu a Deus por tudo que aconteceu naquele dia, por todas as lições recebidas, e dormiu em um sono leve e profundo, mas com a certeza de que tudo daria certo.
É assim que acontece conosco. Muitas vezes estamos à espera de algo que não chega ou demora a chegar. Ficamos impacientes, triste, até que aparecem pessoas que não vão dar a mínima atenção, mas outras, que vão se importar tanto, que não vão abrir mão de uma boa conversa. Mas a vida continua do mesmo jeito e resolvemos ir por outro caminho, no qual conhecemos mais pessoas, compartilhamos histórias, até que uma hora, chegamos onde deveríamos chegar, e pode acreditar, às vezes é bem melhor do que imaginávamos, mesmo com tanta demora. Se não está dando certo de um jeito, vamos por outro caminho. Nada é por acaso e o que importa não é se o caminho foi longo e doloroso, mas sim, que chegamos. Tudo é aprendizado. Não desista!
Por Karine Santos